Como Explicar a Atual Febre do "Bebê Reborn"
- Antonio Carlos Faustino
- há 4 dias
- 3 min de leitura
Nos últimos anos, os chamados bebês reborn ganharam as redes sociais, as prateleiras do e-commerce e o coração de colecionadores e entusiastas em todo o mundo. Essas bonecas hiper-realistas, produzidas com materiais como vinil siliconado e detalhamento artesanal, ultrapassaram o status de brinquedos. Hoje, fazem parte de terapias, coleções artísticas e até simulações de maternidade.
Mas o que está por trás dessa febre contemporânea? Por que milhares de pessoas — de crianças a adultos — investem tempo, afeto e dinheiro em bonecos que parecem bebês de verdade?
Origem do Bebê Reborn
A história do bebê reborn remonta à década de 1990, nos Estados Unidos, quando artistas começaram a modificar bonecas comuns para torná-las mais realistas. A palavra "reborn" significa "renascido", e define com precisão o processo meticuloso de transformar uma boneca genérica em um bebê visualmente idêntico a um recém-nascido real, com veias pintadas à mão, peso ajustado, cabelo implantado fio a fio e expressões faciais naturais.
Segundo Mestre (2020), o movimento artístico começou como forma de personalização de bonecas, mas logo ganhou um público crescente em feiras de artesanato e fóruns online.
O Aumento da Popularidade
Nos últimos cinco anos, o fenômeno se expandiu exponencialmente. O TikTok, Instagram e YouTube foram plataformas decisivas nesse crescimento. Influenciadoras exibindo suas rotinas com reborns, canais com vídeos de "role-play" materno e comunidades virtuais impulsionaram a visibilidade.
Além disso, o crescimento do e-commerce global e da produção artesanal facilitou o acesso. Bonecas reborn com detalhes sofisticados variam de R$ 500 a mais de R$ 3.000, dependendo do nível de realismo.
Entre o Brinquedo e o Objeto Terapêutico
Embora muitos adquiram o bebê reborn por lazer ou colecionismo, seu uso terapêutico tem ganhado destaque. De acordo com estudo publicado por Avelar e Cunha (2019), psicólogos e terapeutas ocupacionais utilizam reborns para auxiliar pacientes com depressão, luto perinatal ou Alzheimer. A boneca estimula o cuidado, o vínculo afetivo e a reestruturação emocional.
Para pessoas que perderam filhos ou enfrentam dificuldades de fertilidade, o reborn pode representar um canal simbólico de acolhimento emocional. Isso não substitui o tratamento psicológico tradicional, mas pode ser uma ferramenta complementar relevante.
Críticas e Controvérsias
Apesar de seu valor terapêutico e artístico, os reborns também despertam críticas. Parte da sociedade vê o uso por adultos como comportamento regressivo ou patológico. Em alguns países, vídeos com encenações maternas são alvo de polêmicas, principalmente quando envolvem simulações públicas (como dar mamadeira em locais públicos).
No entanto, essas visões muitas vezes desconsideram os contextos terapêuticos e artísticos, além de reforçarem estigmas sobre formas alternativas de afeto e expressão emocional.
Um Mercado em Expansão
A febre do bebê reborn movimenta milhões anualmente. Artistas especializadas, conhecidas como "rebornistas", criam bonecas sob encomenda, participam de feiras internacionais e mantêm catálogos online com grande demanda.
Além das bonecas, há toda uma linha de acessórios: roupinhas realistas, mamadeiras, carrinhos, fraldas, chupetas e até kits de batizado. Esse ecossistema transforma o reborn em um estilo de vida para muitos.
Reborn e o Afeto Digital
O fenômeno do reborn também pode ser visto como parte da crescente digitalização das emoções. A estética "ASMR", os vídeos de cuidado com reborns e o conteúdo em primeira pessoa geram experiências afetivas digitais.
Crianças aprendem empatia, adultos encontram conforto e artistas exploram técnicas complexas de escultura e pintura — tudo isso mediado por plataformas digitais que ampliam a experiência sensorial e emocional.
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Considerações Finais
O bebê reborn é mais do que um boneco: é uma manifestação de afetividade, arte, memória e cuidado. Sua popularização revela como o ser humano busca, mesmo através de objetos, construir vínculos significativos e formas simbólicas de amar.
Entre a crítica e o encantamento, a febre do reborn nos convida a olhar para o afeto de forma mais ampla, sem julgamentos ou rótulos simplistas.
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Referências:
AVELAR, Marina; CUNHA, Rosana. Bonecas reborn como instrumentos terapêuticos: aspectos simbólicos e afetivos. Revista Brasileira de Psicologia, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 45-58, 2019.
MESTRE, Carla. Bebês Reborn: arte ou obsessão? São Paulo: Ed. Humanas, 2020.
SILVA, Beatriz L. Terapia simbólica e bonecos realistas: uma abordagem clínica. Porto Alegre: Ed. Psiquê, 2022.
G1. Bonecas que parecem bebês reais ganham espaço nas redes sociais. G1 Globo, São Paulo, 2023. Disponível em: https://g1.globo.com. Acesso em: 10 mai. 2025.
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