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Não Somos Quintal dos EUA: Um Desagravo à Fala do Secretário Pete Hegseth

Introdução


Em março de 2025, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, fez uma declaração infeliz e anacrônica ao se referir às Américas do Sul e Central como o “quintal dos Estados Unidos”. A fala ecoou ecos de imperialismo e intervenção que ainda reverberam na memória coletiva dos povos latino-americanos. Mais do que uma gafe diplomática, suas palavras reacendem debates sobre a soberania, autodeterminação e os fantasmas persistentes da Doutrina Monroe no século XXI.


Este artigo é um desagravo, um chamado ao respeito e à reafirmação da dignidade geopolítica dos países latino-americanos frente à retórica colonialista.


1. A Herança da Doutrina Monroe: “América para os Americanos” ou Para os Norte-Americanos?


A Doutrina Monroe, proclamada em 1823, é frequentemente citada como um divisor de águas nas relações hemisféricas. Sob o lema “América para os americanos”, os EUA pretendiam limitar a influência europeia no continente. No entanto, ao longo do tempo, essa política foi reinterpretada como um pretexto para justificar intervenções no hemisfério, transformando os países latino-americanos em zonas de influência direta ou indireta de Washington.


Referência: Smith, P. H. (2008). Talons of the Eagle: Latin America, the United States, and the World. Oxford University Press.


2. Intervencionismo: De McKinley a Hegseth


Não é de hoje que figuras do alto escalão do governo americano reproduzem essa lógica de subordinação. William McKinley, presidente dos EUA durante a Guerra Hispano-Americana, já via Cuba e Porto Rico como parte de um “destino manifesto”. Décadas depois, a política do “Big Stick” de Theodore Roosevelt consolidaria a intromissão direta nos assuntos latino-americanos.


A fala de Hegseth, portanto, não é um erro isolado, mas a continuação de uma narrativa histórica. A diferença é que agora, os países da CELAC possuem voz, instituições e, sobretudo, memória.


Referência: Grandin, G. (2006). Empire’s Workshop: Latin America, the United States, and the Rise of the New Imperialism. Holt Paperbacks.


3. Reações e Repúdio: América Latina se Pronuncia


Diversos governos latino-americanos, inclusive o do México — liderado pela presidente Claudia Sheinbaum —, manifestaram repúdio à fala de Hegseth. A presidente foi direta ao afirmar que “o México não é nem será quintal de nenhuma nação”. No Brasil, diplomatas e parlamentares exigiram um pedido formal de retratação, enquanto organismos multilaterais, como a CELAC e a UNASUL, destacaram a necessidade de respeito mútuo e relações baseadas na igualdade.


4. A Nova Geopolítica: A CELAC e a Pluripolaridade


A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) representa uma tentativa concreta de construção de uma diplomacia mais autônoma. Frente à hegemonia dos EUA, países do continente têm diversificado suas alianças estratégicas com a China, União Europeia e até com nações africanas e do Sudeste Asiático.


Essa movimentação enfraquece o discurso de “quintal” e impõe aos EUA a necessidade de rever sua postura diplomática para não perder relevância na região.


Referência: Bernal-Meza, R. (2020). La política exterior de América Latina en un mundo multipolar. CLACSO.


5. A Força da Palavra: O Perigo da Retórica Colonialista


A linguagem importa. Ao se referir ao Sul Global com termos depreciativos, líderes perpetuam estigmas que legitimam ações desiguais e neocoloniais. O secretário Hegseth, ao fazer essa declaração, não apenas desrespeita a soberania dos países latino-americanos, como também reforça uma imagem dos EUA como potência arrogante e desatualizada com os tempos geopolíticos modernos.


6. A América Latina Hoje: Não é mais a mesma


Hoje, a América Latina é mais conectada, mais consciente e mais plural. Suas lutas por soberania não são mais apenas militares ou ideológicas — são também narrativas, identidades e projetos de futuro. A tentativa de encaixar o continente em moldes de subordinação geopolítica ignora a evolução dos povos que aqui vivem e resistem.


Conclusão: O Desagravo é um Ato de Memória e Futuro


Este artigo é um grito simbólico de desagravo. Contra a fala de Hegseth, oferecemos história, dados, vozes e dignidade. A América Latina não é quintal — é casa. E cada nação tem o direito de viver, decidir e prosperar sem imposições externas.


Que os novos tempos tragam não apenas mais equilíbrio geopolítico, mas também mais respeito entre os povos.


Referências Consultadas:


Smith, P. H. (2008). Talons of the Eagle. Oxford University Press.


Grandin, G. (2006). Empire’s Workshop. Holt Paperbacks.


Bernal-Meza, R. (2020). La política exterior de América Latina en un mundo multipolar. CLACSO.


Discurso oficial da Presidente Claudia Sheinbaum (março de 2025).



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