Os turistas serão os primeiros a fugir de Alcatraz com a reabertura decidida por Trump?
- Antonio Carlos Faustino
- 5 de mai.
- 5 min de leitura

Por décadas, Alcatraz foi sinônimo de isolamento absoluto, lendas de fuga e punição exemplar. Mas agora, o ícone da Baía de San Francisco volta aos noticiários com um novo propósito. Durante seu segundo mandato, o presidente Donald Trump anunciou um plano polêmico: reabrir Alcatraz como prisão de segurança máxima para criminosos considerados "irrecuperáveis".
A proposta, embalada em retórica populista e promessas de “lei e ordem total”, choca a comunidade internacional, divide especialistas e levanta uma pergunta provocadora: os turistas — que por anos visitaram a ilha como um marco histórico — serão os primeiros a fugir de um novo Alcatraz?
Alcatraz: de prisão a atração turística, e de volta?
Fechada em 1963, a prisão federal de Alcatraz foi, por 29 anos, a morada forçada de alguns dos criminosos mais temidos dos Estados Unidos, como Al Capone e Robert Stroud. Desde os anos 1970, a ilha transformou-se em um dos destinos turísticos mais populares da Califórnia, recebendo mais de um milhão de visitantes por ano.
No entanto, com a proposta de Donald Trump de reconverter a ilha em presídio, os planos de passeios históricos e contemplação cênica dão lugar a cercas de segurança, helicópteros de patrulha e discursos inflamados sobre punição exemplar.
O anúncio de Trump: segurança, espetáculo e cálculo político
Em um discurso transmitido ao vivo da Casa Branca, Trump afirmou que “chegou a hora de trazer de volta a verdadeira dissuasão criminal” e que “os piores dos piores devem saber que há um lugar de onde não se foge: Alcatraz”.
O projeto prevê reformas estruturais no complexo original, a instalação de sistemas de vigilância de última geração e a transferência de detentos considerados de alta periculosidade, incluindo líderes de gangues, chefes do tráfico e envolvidos em crimes federais complexos.
Segundo Trump, Alcatraz será "um símbolo da justiça americana, que não teme agir com firmeza". No entanto, para críticos, a medida é mais uma jogada midiática do que uma solução penal legítima.
A reação pública: apoio dividido, preocupação crescente
A proposta causou uma tempestade de opiniões nas redes sociais e nos meios de comunicação. Pesquisas realizadas pelo instituto Gallup indicam que 48% da população americana apoia a ideia de reabrir prisões de segurança máxima em locais isolados; no entanto, 42% classificam a medida como “autoritária” ou “inviável”.
Especialistas em direitos humanos afirmam que a ideia fere princípios de reabilitação e ressocialização. “Trump está ressuscitando uma era de punição medieval, baseada no medo e não na justiça”, declarou a jurista Amanda Keller, professora da Universidade de Columbia.
Turismo ameaçado: o fim do cartão-postal?
A reconversão de Alcatraz em prisão impactaria diretamente o setor turístico da região de San Francisco, que lucra milhões de dólares anualmente com passeios guiados, museus e atividades culturais na ilha.
Empresários locais já sinalizam prejuízos. “Se o presídio voltar a funcionar, ninguém mais vai querer visitar Alcatraz como turista. As reservas já começaram a cair desde o anúncio”, afirmou Rick Morrell, dono de uma agência turística da região.
A cidade de San Francisco, que tradicionalmente vota contra Trump e abriga movimentos progressistas, promete resistência política e jurídica ao projeto. “Transformar um símbolo de memória em uma prisão ativa é um retrocesso histórico”, declarou a prefeita London Breed.
Questões legais e estruturais: é viável reativar Alcatraz como prisão?
Do ponto de vista técnico, a reativação de Alcatraz como penitenciária apresenta diversos obstáculos. A estrutura da ilha é antiga e degradada, com sérios problemas de encanamento, energia e logística.
Estudos do próprio National Park Service indicam que os custos para tornar a ilha funcional como presídio superariam os 1,2 bilhão de dólares. Além disso, há restrições ambientais, já que Alcatraz abriga espécies protegidas e é classificada como patrimônio cultural e natural.
Ainda assim, Trump insiste que a reconstrução será bancada “com recursos privados e parcerias patrióticas”, embora até o momento não haja confirmação de empresas envolvidas.
Uma prisão simbólica para uma política de exceção
Mais do que prender criminosos, analistas afirmam que Trump quer prender narrativas. Alcatraz, como símbolo, representa dureza, controle e impossibilidade de fuga — uma imagem que agrada à sua base conservadora.
O plano também dialoga com outros projetos da administração atual, como a ampliação de centros de detenção para imigrantes, propostas de penas mais severas e ataques ao sistema judicial considerado “leniente”.
Para o cientista político Noah Greene, da Universidade de Chicago, “Trump está reabilitando não só uma prisão, mas um modelo de punição que prioriza o espetáculo sobre a eficácia”. Ele afirma que o projeto faz parte de uma estratégia de reforço de autoridade presidencial.
O medo dos turistas: fuga silenciosa de Alcatraz?
Curiosamente, os primeiros a recusar a nova Alcatraz são os turistas. Desde o anúncio, operadoras de turismo relatam cancelamentos em massa e mudanças de roteiro.
“Temos recebido e-mails de turistas dizendo que não se sentem confortáveis em visitar um lugar que será reativado como presídio real. É como se o lugar tivesse perdido seu valor histórico para virar um show político”, relata a guia turística Helena Robbins.
As redes sociais também se encheram de críticas. A hashtag #AlcatrazNuncaMais viralizou entre ativistas e influenciadores. Muitos se perguntam se será possível visitar um museu em uma ilha onde prisioneiros estarão, novamente, encarcerados.
Reações internacionais: direitos humanos em alerta
Organizações como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch emitiram notas de repúdio ao projeto, alertando para a criação de “zonas de punição extrema” em desacordo com tratados internacionais.
“Utilizar Alcatraz como prisão para criminosos considerados irrecuperáveis cria uma categoria humana à parte, o que é inaceitável no direito internacional”, afirmou a jurista chilena Teresa Larraín, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
O futuro de Alcatraz: prisão, museu ou símbolo político?
A proposta de Trump desafia não apenas a história americana, mas também a percepção sobre o que significa justiça no século XXI. Ao trazer de volta uma prisão simbólica, o presidente envia uma mensagem clara: segurança a qualquer custo, mesmo que isso signifique enterrar a memória histórica e cultural de um lugar que há muito se tornara símbolo de reflexão.
Para os defensores da reabertura, Alcatraz representa um retorno à firmeza. Para os críticos, é o retrato de uma política de medo e teatralidade.
Conclusão: quem realmente será aprisionado em Alcatraz?
O debate em torno da reativação de Alcatraz vai além de grades e muros. Trata-se de uma disputa por narrativas, valores e símbolos. Enquanto Trump busca erguer novamente uma fortaleza contra o crime, muitos veem nisso uma fortaleza contra a própria evolução da justiça.
Se os turistas estão fugindo de Alcatraz, talvez não seja pelo medo de criminosos, mas pelo receio de que a história esteja sendo sequestrada em nome de uma política de exceção.
Você acha que Alcatraz deve voltar a ser uma prisão? Ou deve permanecer como um marco histórico? Deixe sua opinião nos comentários e apoie nosso Blog aqui para ler mais análises e reflexões exclusivas sobre política, história e sociedade nas Américas.
Referências:
AMNISTIA INTERNACIONAL. Nota pública sobre a proposta de reabertura de Alcatraz como prisão. Londres: AI, 2025. Disponível em: https://www.amnesty.org. Acesso em: 05 maio 2025.
GALLUP. American Opinions on Prison Reform and Symbolic Justice Policies. Washington, DC: Gallup Institute, 2025. Disponível em: https://www.gallup.com. Acesso em: 05 maio 2025.
GREENE, Noah. The Return of the Punitive Symbolism in American Politics. Chicago: University of Chicago Press, 2024.
HUMAN RIGHTS WATCH. Relatório sobre o uso de prisões em locais de valor histórico-cultural. Nova York: HRW, 2025. Disponível em: https://www.hrw.org. Acesso em: 05 maio 2025.
KELLER, Amanda. Direitos Humanos e Populismo Punitivo nos EUA. Nova Iorque: Columbia Law Review, v. 97, n. 2, p. 110-125, 2025.
LARRAÍN, Teresa. A exceção e o encarceramento simbólico: o caso Alcatraz. Santiago: Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), 2025.
NATIONAL PARK SERVICE. Structural Report on Alcatraz Island. Washington, DC: NPS/US Department of the Interior, 2023. Disponível em: https://www.nps.gov/alca. Acesso em: 05 maio 2025.
WHITE HOUSE. Presidential Address on National Security and Penal Reform. Washington, DC: Office of the President, 2025. Disponível em: https://www.whitehouse.gov. Acesso em: 05 maio 2025.
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